Resumo de uma visão Sociológica Espírita - Por José Rodrigues

Ao falecer, em 1857, o filósofo francês Augusto Comte, deixou fundamentada uma nova ciência, a Sociologia, fruto do positivismo, sistema que utilizou o método matemático para formular leis que regem o desenvolvimento das sociedades. Naquele mesmo ano, com O Livro dos Espíritos, Allan Kardec fundava uma filosofia científica com o propósito de aprofundar o conhecimento do ser sobre si mesmo, sob uma visão integral da vida que se manifesta na sociedade. Nas Leis Morais apresentadas naquele livro, estavam as bases do pensamento ético e social espírita, interpretado, discutido e ampliado por eminentes pensadores dentre os quais é expoente o argentino Manuel S. Porteiro.

A visão sociológica espírita parte do conceito de homem como espírito encarnado, de origem individual, que vive sua própria história cumulativa de experiências, para as quais há um elemento indissociável, a convivência. Leis, normas, instituições, valorações, que regulam a vida em sociedade, refletem a soma do pensamento dos indivíduos, agentes, por sua vez, de um psiquismo dinâmico, segundo conceito porteiriano, resultante de sua própria natureza e da incorporação do patrimônio social coletivamente construído.

O elemento de ligação dessa causalidade cumulativa é o espírito, cuja continuidade se expressa pelos mecanismos da lei palingenésica. A aproximação mais íntima com o elemento material, pela reencarnação, integra um processo natural, inerente ao espírito, que se vê desafiado a construir o mundo de bem-estar, no qual se sinta feliz, individual e coletivamente. Esse processo está na natureza e, assim, é universal.

O como para atingir-se a mesma finalidade, no entanto, tem diferido, ao longo da história do homem. Desde o conceito descartável da inutilidade da vida terrena, ao determinista e conservador de que tudo está previamente traçado, ou o da revolução a qualquer custo, para operar-se a transformação social, em todos, com suas várias nuances, subsiste o elo da dúvida.

O Espiritismo propõe-se a enfrentá-la com a própria natureza do homem. Esta chave simples, que se assemelha à abertura das portas do macrocosmo em direção ao infinito, terá inúmeras teorizações, em razão da diversidade de culturas e crenças, talvez até de interesses. Eis uma sociologia que vem quebrar barreiras de origem para fundamentar no homem a destinação igualitária e libertária características de sua essência, estágio consequente da solidariedade, da ajuda mútua nos campos do intelecto, da moral e do social, do entendimento de que a humanidade é uma só e de que o poder do mais forte não deve ser mais um agente de opressão e exclusão. Ao contrário, um instrumento de progresso para todos.

José Rodrigues é jornalista e economista. Foi presidente da Divulgação Cultural Espírita-Dicesp e redator do jornal “Espiritismo e Unificação”. É diretor fundador da Ação de Recuperação Social-ARS, em Santos, onde reside.

Dezembro/2000.